segunda-feira, 20 de setembro de 2010

BUCHADA EM MANOEL CHÉU


Domingo passado fui arrastado pela Viviane para comer uma buchada na casa de uma comadre dela no bucólico bairro de Manoel Chéu. Chegamos perto das 11 horas na residência de Dalva (o nome da comadre), que estava acompanhada do marido Timóteo, do cunhado Claudecir, da irmã Zefinha, dos filhos pequenos, Richardson e Ecleyson, além de primos, tios, avó, vizinhos... Dava pra fazer um time de futebol e ainda sobrava mulheres para jogar queimado.

Tinha a buchada, arroz amarelado, macarrão avermelhado, maionese, salada de tomate, cebola e alface, refrigerante Jatobá, vinho doce, vinho gengibre, rum e coca cola, pitú, caipirinha já prontinha e de outras coisas esqueço agora, que não sou computador para guardar tudo na memória.

Como acontece sempre nessa moradias de vilas e bairros de Garanhuns e de qualquer cidade brasileira, não faltava um som tocando em toda altura músicas da Banda Calypso, Amado Batista, Reginaldo Rossi e Forró Doído, digo Muído.

Todo mundo tava feliz como quem encontrou o Nosso Lar de Chico Xavier e acompanha impreterivelmente (quase que não consigo escrever essa palavra) a novela Passione, ficando ligadão no sotaque italiano de Tony Ramos e aquela Aracy do sobrenome complicado.

Quando estava todo mundo de bucho cheio de buchada e a cabeça fermentada pelo álcool, deixaram de falar de novela, futebol e religião. Aí entraram na política, pois lá em Manoel Chéu todo mundo já tem candidato a presidente, governador, deputado e até senador.

Uma das comadres presentes confessou ser eleitora convicta do Serrote, causando reação numa vizinha apaixonada pelo penteado da Dilma Casquete.

- Por que tu vota nele mulé? - perguntou a simpatizante da mulher de Lula.
- Por causa da receita! - respondeu na bucha.
- Que receita? - insistiu a opositora.

Nesse ponto a comadre aliada do Serrote colocou as mãos na cintura e fez uma cara de desagrado por conta da ignorância da outra. Então, com ar de professora do primeiro grau menor, deu uma lição na desinformada:

- Ô muié, tu parece que não assiste o pograma eleitorá. Eu vejo toda noite na televisão de LCD que eu comprei na insinuante em 18 prestações. Já paguei duas. O Serra quando ganhar a ileição vai dar remédio de graça pra todo mundo do Brasil. Ele até já tinha preparado as receita, se prevenindo pra quando chegar lá. Pois a Dilma e seus xeleléus violaram a casa da filha do careca, que estava guardando os papé e levaram tudo. Só pro home não distribuir remédio de graça com a gente. Tu tá vendo do que essa Cassetete é capaz? Mandar roubar receita... Quem já viu uma coisa dessas? Imagine se ganhar. Não vai ter receita nem remédio, porque ela e sua turma vão querer levar tudo pra casa. Te informa comadre. Assiste o Jornal Nacioná que o Bone e a Maria de Fátima explicam tudo direitinho toda noite.

Eu sei que depois disso ninguém mais se entendeu. Uma defendia Dilma dizendo que ela não roubou a receita, outro acusava a mulher de Lula de ser desumana, teve um zangado gritando “ladrão de receita é o Serra”! Apareceu um rapaz novo querendo saber mais que os velhos argumentando que tanto o Serrote quanto a Casquete tem culpa no caso da receita e não faltou nem mesmo um simpatizante de Fidélis no deles e outro de um bom chá de Arruda Sampaio.

Uma confusão dos diabos, eu todo empachado da buchada, quando a Viviane pela primeira vez na vida fez um boa ação por mim fora da cama. Em vez de entrar no rolo, pegou o meu braço e me puxou.

- Meu nego, tem uns matos ali depois da Várzea. Vamos lá nos amassar um pouqinho que dá mais futuro.

Concordei na hora e fugi com a minha deusa. Confesso a vocês que foi uma maravilha. Ela tinha tomado umas caipirinhas e estava fogosa que só aquelas mulheres dos livros de Jorge Amado. A gente se entusiasmou tanto que tive medo de ser dado um flagra e levarem a gente para a cadeia, bem pertinho, no ex-presidídio feminino do bairro.

Mas voltamos para casa em paz e felizes da vida. Nem me lembrava mais da confusão, por conta do caso da receita. Fui dormir pensando com meus botões: buchada em Manoel Chéu ou na Cohab Deus me livre! Só depois da eleição..

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