segunda-feira, 19 de julho de 2010

VIVIANE NO FESTIVAL DE INVERNO

Estamos em pleno Festival de Inverno e a minha namorada, Viviane, a moça mais bonita do bairro de São José, está alvoroçada. Embora, dentre todas as atrações anunciadas, só goste mesmo de Adilson dos Ramos e de Reginaldo Rei, ela não quer perder nada. Pretende frequentar todos os espaços, nem que seja para criticar e infernizar a vida dos outros.
Ela queria o Odair novamente, Amado Batista ou Calypso. Mas como eles não foram contratados soltou mais palavrões do que Dunga quando entrevistado por algum jornalista da Globo. Tudo em cima da Fundarpe, que ela culpa por toda coisa ruim que rola antes e depois do evento realizado em Garanhuns.
Procuro mostrar pra ela que a programação tá boa e cito Gal Costa, na grade de programação da Guadalajara. “Que? Aquela coroa?! Tá mais rodada de que o pneu do caminhão que levou o presidente Lula pra São Paulo... Tinha graça eu perder meu tempo vendo aquela pamonha sem sal”.
Ela investe contra a cantora baiana, mas no dia (noite, né?) tá lá, embora não olhe pra o palco e fique com as amigas, fofocando, falando mal da roupa do povo, relembrando o último capítulo da novela das 6, ou das 7, das 9... Sei não, acho que assiste todas.
“Mas meu amor e a Elba Ramalho?”, insisto, com toda doçura, que só fico assim, derretido, quando falo com a Viviane. “É outra lambisgóia. Já teve o seu tempo. Essa aí já cantou até em Capoeiras, no tempo de Onde Tu Tá Nenen. Tu já viu um artista que se apresenta em Capoeira ser nome para esse festival de Garanhuns”?, questionou ela, me deixando aparvalhado e sem argumentos.
E aí não deixou mais esse cronista falar mais nada e ela mesmo começou a comentar tudo sobre o Festival de Inverno. Mostrando um conhecimento da programação, do qual eu não suspeitava de jeito nenhum:
“Esse Paralama aí é de fusca. Também já rodou o Brasil todo e só quem gosta desses velhinhos são uns saudosistas otários metidos a roqueiros. Rock porra nenhuma. Seu eu quiser embalo eu escuto Elvis Presley no meu Mp3...’
“Skank...? E isso aí é nome de banda. Parece estanque, tanque, palanque, qualquer coisa assim. Por que esse grupo não muda a sua denominação? Devia se chamar Garagem. Só conheço deles aquela música que fala em futebol, assunto do qual quero distância. Depois do Brasil perder pra um time ruim daquele, a Holanda, você acha que vou querer saber de bola e mais ainda quem canta músicas relacionadas a esses bandidos? Veja o caso desse Bruno, que mais parece ter saído de um filme de horror, feito aquele Silêncio dos Inocentes...
“Meu bem, o Skank não tem nada a ver com isso, pelo amor de Deus”, tentei defender o grupo pop, que eu adoro.
“Tem sim. Essas bandas de rock fazem apologia do crime. Maconha, crack, álcool e jogadores de futebol são as praias deles. Por isso gosto do Odair e do Reginaldo, que cantam o amor e a inocência”, argumentou minha deusa.
E prosseguiu:
“Esse tal de The Fezes eu não aguento mais. Já vi mais de 10 vezes e o repertório é o mesmo. Sem o romantismo do Adilson. Pitty é coisa de adolescente deslumbrado, menininhas que não sabem nem trepar e pensam saber de tudo. Paulinho da Viola tinha mais era de botar a viola no saco e ficar lá, com sua Portela”.
“E Marcelo D2, o que é isso? Um doidão, um desconhecido de minhas amigas de Manoel Chéu e Vila do Quartel. Lá elas só ouvem Roberto Carlos e Fábio Júnior. Não estão loucas de pegar um ônibus ou um mototaxi nesse frio pra ver um cantor insignificante desses. Esse D é de que? De Dedo. Será que ele só tem dois dedos, é mais aleijado do que o presidente Lula?”
“Pra completar ainda arranjam uma tal de Móveis Coloniais de Aracaju (o certo é Acaju, mas ela não sabe). Isso pode prestar? Móveis Coloniais? Deve ser coisa de Português, que é sempre burro. Além do mais de Aracaju, a cidade mais sem graça do Nordeste...”, investiu Vivi, demonstrando até uma certa carga de preconceito contra a nossa região. Meu Deus! Será que minha amada está fazendo parte daquela comunidade do orkut.
Meus caros 18 leitores (o número está aumentando depois da internet) peço que não levem em consideração as opiniões da minha amada. Ela não sabe o que faz nem o que fala. O Festival de Inverno está com ótima programação, apesar de terem descuidado um pouquinho do Pau do Pombo.
Mais tem coisa demais: pop, rock, forró, circo, cinema, teatro, oficinas, MPB, cultura popular... Vamos aproveitar o FIG e ignorar a Viviane. Podem deixar que eu cuido dela e nesses dias que restam vou ver se ponho uma mordaça nela. Caso não seja atingido pela Lei Maria da Penha.
Até a próxima.

P.S. - Como não sou doido de revelar a identidade secreta da minha Viviane, ilustrei o artigo com uma foto de outra Viviane, a Araújo. Espero que meus 18 leitores não se incomodem com a visão.

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