quarta-feira, 17 de abril de 2013

ABANDONO DO LAR

Essa história quem chegou contando em casa foi a Viviane, depois de tê-la ouvindo na salão de beleza de Salete, no bairro de São José. As amigas narraram tudo em detalhes, como se comentassem alguma novela da Globo, porque as meninas que frequentam a Sassá são apaixonadas por casos de amor, extravagâncias sexuais e anomalias gerais envolvendo a cabeça, o coração e outros órgãos humanos.

O caso é que um tal de Alfredo, senhor dos seus mais de 40 anos, morador de um distrito Caruaru, terra de Vitalino, José Condé e toda família Lyra, teve a ousadia de casar com uma moça de nome Doralina. Pobre, apenas 16 anos de idade, a menina tem o rosto bonito, cor morena e umas pernas grossas capaz de fazer qualquer traseunte da Avenida Santo Antônio torcer o perscoço se ela estiver de visita por aqui. Quem não quer olhar umas coxas daquela neste mundo dominado pela sensualidade e os homens cada vez mais convencidos de que a carne é fraca?

Entonce que o casamento entre Alfredo e Doralina aconteceu com a autorização dos pais e o jovem casal teve direito até a lua de mel, passada no Hotel Tavares Correia, nesta aprazível cidade de Garanhuns. Só não foi melhor porque a cidade estava quente demais, parecendo Recife ou Olinda, sem fazer jus ao título de “Cidade do Clima Maravilhoso”. E ainda tinha muita muriçoca, um inferno na hora de dormir e de rezar.

Depois da atribulada lua de mel os apaixonados voltaram para a vila em que moravam e começaram a viver a labuta de todos do lugar. Ele trabalhando no campo, com dificuldades para plantar e vender uma rês, pois a seca devora tudo e está difícil seguir em frente nesse Nordeste castigado pela ira do senhor. Aqui uso as palavras de um pastor de uma dessas igrejas evangélicas e também de alguns padres católicos.

Eles, os padres e pastores, acreditam que tanta estiagem e sofrimento só pode ser castigo porque os homens só pensam em pecar, não querem mais saber de igreja nem dos 10 mandamentos. Estão roubando, matando e principalmente cobiçando a mulher do próximo. Depois dessa invasão de motos e moteis por todo canto virou um cabaré só, uma nova Sodoma e Gomorra, daí o castigo divino de não chover mais e tudo parece que vai se acabar.

Bom, isso é conversa dos crentes, e vai ver que têm razão, embora não expliquem porque em São Paulo, no Rio de Janeiro e nos outros estados brasileiros fora da região Nordeste a chuva tá sobrando. Se trouxesse um pouquinho de lá pra cá tava tudo resolvido. Não quero aqui contestar a fé de ninguém e graças a deus acredito em Deus. Mas por que em Sampa chove tanto? Será que lá eles não pecam? Tenho uma prima morando por lá e ela agarante que a safadeza na Ipiranga, Avenida São João, Paulista e todos os buracos da Paulicéia é maior do que em qualquer canto do mundo.

Mas estamos fugindo do assunto, nos preocupando com religião e psicologia quando não entendemos nada de nenhum dos dois assuntos. Mania de brasileiro querer entender de tudo. Vamos deixar isso pra lá e terminar a história do nosso Romeu e nossa Julieta de Caruaru.

Os pombinhos viveram juntos 1 ano e 2 meses e depois ela saiu de casa toda vexada, como quem tá insatisfeita e não voltou mais. Voltou a morar com os pais deixando o Alfredo triste e sozinho.

Ele implorou, apelou, prometeu ceus e terra e nada. A menina disse que ia chegar aos seus lindos 18 anos longe dele.

Alfredo, então, numa atitude drástica, procurou o jornal mais lido de Caruaru e pagou uma nota comunicando que tinha sido abandonado pela esposa. E deu um prazo de 30 dias para Doralina voltar. Caso contrário estaria configurado o abandono do lar. Assim ela perderia todos os direitos: da casa, dos braços, da moto, do cavalo e das duas vacas magras que restavam...

Umas amigas procuraram Julieta, digo Doralina, e tentaram convencer a bichinha a rever sua posição. “Tu vai perder todos os direito, é mulé?”, questinou Maria José, mais experiente, já tendo passado dos 20 e mãe de três molecotes: Zezinho, Alvinho e Antonico.

Então a esposa de Alfredo abriu o seu coração, revelou o segredo que vinha guardando das amigas, dos pais e até de Nosso Senhor: o marido tinha alguma coisa errada na cabeça lá dele e seu comportamento era totalmente estranho. Só pensava na lida do campo, chegava em casa cansado, nem se lembrava de tomar um banho e ia dormir cedo da noite, sem acompanhá-la no assistimento da novela.

- Meu marido em 1 ano e 2 meses de casado só fez o seu dever de casa três vezes. Mesmo assim todo amolecido, sem graça, como se tivesse comendo um prato de maxixe com chuchu. Eu subindo pelas paredes e ele inerte, como se já tivesse morrido. Quanto mais eu insistia, mas ele ficava molenga e preguiçoso sem dá atenção a mim. Eu vou lá viver com um home desses? Não voltou de jeito nenhum.

Todas depois de sabedoras da verdade deram razão a Doralina e chegaram a conclusão de que ela não tinha perdido o juízo coisa nenhuma. Se faltava juízo em alguém não era na moça. “Como é que ele ainda tem coragem de botar um aviso no jornal daquela maneira?”, comentou Solange, agora toda solidária a amiga.

É. O caso é complicado e a carne é fraca mesmo. Tanto a do homem como a da mulher. Moral da história é que Doralina prefere pecar, mesmo correndo o risco da seca no Nordeste continuar, como castigo de Deus.

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