Essa história quem chegou contando em casa
foi a Viviane, depois de tê-la ouvindo na salão de beleza de Salete, no
bairro de São José. As amigas narraram tudo em detalhes, como se comentassem
alguma novela da Globo, porque as meninas que frequentam a Sassá são apaixonadas
por casos de amor, extravagâncias sexuais e anomalias gerais envolvendo a
cabeça, o coração e outros órgãos humanos.
O caso é que um
tal de Alfredo, senhor dos seus mais de 40 anos, morador de um distrito
Caruaru, terra de Vitalino, José Condé e toda família Lyra, teve a ousadia de
casar com uma moça de nome Doralina. Pobre, apenas 16 anos de idade, a menina
tem o rosto bonito, cor morena e umas pernas grossas capaz de fazer qualquer
traseunte da Avenida Santo Antônio torcer o perscoço se ela estiver de visita
por aqui. Quem não quer olhar umas coxas daquela neste mundo dominado pela
sensualidade e os homens cada vez mais convencidos de que a carne é fraca?
Entonce que o
casamento entre Alfredo e Doralina aconteceu com a autorização dos pais e o
jovem casal teve direito até a lua de mel, passada no Hotel Tavares Correia,
nesta aprazível cidade de Garanhuns. Só não foi melhor porque a cidade estava
quente demais, parecendo Recife ou Olinda, sem fazer jus ao título de “Cidade
do Clima Maravilhoso”. E ainda tinha muita muriçoca, um inferno na hora de dormir
e de rezar.
Depois da
atribulada lua de mel os apaixonados voltaram para a vila em que moravam e
começaram a viver a labuta de todos do lugar. Ele trabalhando no campo, com
dificuldades para plantar e vender uma rês, pois a seca devora tudo e está
difícil seguir em frente nesse Nordeste castigado pela ira do senhor. Aqui uso
as palavras de um pastor de uma dessas igrejas evangélicas e também de alguns
padres católicos.
Eles, os padres e
pastores, acreditam que tanta estiagem e sofrimento só pode ser castigo porque
os homens só pensam em pecar, não querem mais saber de igreja nem dos 10
mandamentos. Estão roubando, matando e principalmente cobiçando a mulher do
próximo. Depois dessa invasão de motos e moteis por todo canto virou um cabaré
só, uma nova Sodoma e Gomorra, daí o castigo divino de não chover mais e tudo
parece que vai se acabar.
Bom, isso é
conversa dos crentes, e vai ver que têm razão, embora não expliquem porque em
São Paulo, no Rio de Janeiro e nos outros estados brasileiros fora da região Nordeste
a chuva tá sobrando. Se trouxesse um pouquinho de lá pra cá tava tudo
resolvido. Não quero aqui contestar a fé de ninguém e graças a deus acredito em
Deus. Mas por que em Sampa chove tanto? Será que lá eles não pecam? Tenho uma
prima morando por lá e ela agarante que a safadeza na Ipiranga, Avenida São
João, Paulista e todos os buracos da Paulicéia é maior do que em qualquer canto
do mundo.
Mas estamos
fugindo do assunto, nos preocupando com religião e psicologia quando não
entendemos nada de nenhum dos dois assuntos. Mania de brasileiro querer
entender de tudo. Vamos deixar isso pra lá e terminar a história do nosso Romeu
e nossa Julieta de Caruaru.
Os pombinhos
viveram juntos 1 ano e 2 meses e depois ela saiu de casa toda vexada, como quem
tá insatisfeita e não voltou mais. Voltou a morar com os pais deixando o
Alfredo triste e sozinho.
Ele implorou, apelou, prometeu ceus e terra e nada. A menina disse que ia chegar aos seus lindos 18 anos longe dele.
Alfredo, então,
numa atitude drástica, procurou o jornal mais lido de Caruaru e pagou uma nota
comunicando que tinha sido abandonado pela esposa. E deu um prazo de 30 dias
para Doralina voltar. Caso contrário estaria configurado o abandono do lar.
Assim ela perderia todos os direitos: da casa, dos braços, da moto, do cavalo e
das duas vacas magras que restavam...
Umas amigas
procuraram Julieta, digo Doralina, e tentaram convencer a bichinha a rever sua
posição. “Tu vai perder todos os direito, é mulé?”, questinou Maria José, mais
experiente, já tendo passado dos 20 e mãe de três molecotes: Zezinho, Alvinho e
Antonico.
Então a esposa de
Alfredo abriu o seu coração, revelou o segredo que vinha guardando das amigas,
dos pais e até de Nosso Senhor: o marido tinha alguma coisa errada na cabeça lá
dele e seu comportamento era totalmente estranho. Só pensava na lida do campo,
chegava em casa cansado, nem se lembrava de tomar um banho e ia dormir cedo da
noite, sem acompanhá-la no assistimento da novela.
- Meu marido em 1
ano e 2 meses de casado só fez o seu dever de casa três vezes. Mesmo assim todo
amolecido, sem graça, como se tivesse comendo um prato de maxixe com chuchu. Eu
subindo pelas paredes e ele inerte, como se já tivesse morrido. Quanto mais eu
insistia, mas ele ficava molenga e preguiçoso sem dá atenção a mim. Eu vou lá
viver com um home desses? Não voltou de jeito nenhum.
Todas depois de
sabedoras da verdade deram razão a Doralina e chegaram a conclusão de que ela
não tinha perdido o juízo coisa nenhuma. Se faltava juízo em alguém não era na
moça. “Como é que ele ainda tem coragem de botar um aviso no jornal daquela
maneira?”, comentou Solange, agora toda solidária a amiga.
É. O caso é
complicado e a carne é fraca mesmo. Tanto a do homem como a da mulher. Moral da
história é que Doralina prefere pecar, mesmo correndo o risco da seca no
Nordeste continuar, como castigo de Deus.
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