terça-feira, 19 de abril de 2011

A PÁSCOA DO RAULZITO

Quando eu era pequeno não conhecia a Viviane. Eu nasci em Manari, ela em Angelim. Depois viemos a nos encontrar nessa cidade encantadora chamada Garanhuns. Vivemos de amor e brisa e nem ligamos para os buracos por todo lugar. Tá nascendo um matagal em plena Praça Guadalajara, em fez de criticar vamos é regar as plantinhas verdes. Viva a natureza!
Quando eu era menino, no Sertão alagoano e sei que por aqui era a mesma coisa, na Semana Santa era proibido até tomar banho. Mamãe não deixava, eu fingia desagrado e na verdade adorava. Quem já viu menino gostar de chuveiro frio? Pra dizer a verdade não tinha chuveiro, era na cuia mesmo. E quase todo dia, naquele lugar sagrado eu fazia minhas orações, pensando numas santas que tinha na minha cidade natal. Outro dia, lembrando essas coisas com a Viviane, levei um beliscão que quase arranca um pedaço do coro.
- Cabra sem vergonha - e ainda levei essa da ciumenta.
Nos rádios só tocava música fúnebre, no máximo Vicente Celestino com sua Porta Aberta e Augusto Calheiros com uma música que falava da hora da Ave Maria.
Ninguém namorava com amassos apertados, não existia motel e ninguém era doido de ir pra os matos e quem fizesse qualquer safadezazinha estava condenado aos quintos dos infernos.
Uma mulher lá na minha cidade, uma tal de Maria Riacho (por que será que ela tinha esse nome? será que menstruava o mês inteiro sem parar?), tinha a fama de viver correndo lobisomem. Nós, os meninos, que fazíamos as orações sempre cheios de remorsos, ficávamos morrendo de medo dessas pessoas. Era tanta assombração que à noite às vezes não dava pra dormir e o jeito era correr e pedir socorro na cama de mamãe. Papai não devia gostar, mas eu sabia lá de nada da vida...
Até os bandidos, os ladrões e os assassinos respeitavam a Semana Santa. Hoje eles até acham mais tranquilo matar na Sexta da Paixão. E os moteis, já fui informado, fazem um bom movimento no dia que antigamente era sagrado.
Tudo mudou. Nas escolas não tinha aula a semana toda, o comércio fechava e ficava todo mundo sério, como se este comportamento aliviasse um pouco as dores de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Era melhor naquele tempo ou hoje?
Bom era o feijão de coco, os umbus, o bacalhau, o peixe, um gole de vinho. A gente comia mais do que o Faustão quando este era gordo. E não sentia nada.
Hoje tem novela com mulheres semi-nua, uns por cima dos outros, palavrões e tudo mais que lembre sexo. Tanto faz a quarta, a quinta ou a sexta. E desapareceu o sentimento de pecado. Namorar é bom, principalmente com a Viviane.
Tô pensando depois de amanhã levar ela pra o Alto do Magano para assistir a Paixão de Cristo de Gerson Limão. Se não tiver muito animado, descemos numas encostas e vamos namorar, naquele friozinho. Pode fazer 10 graus, que a gente se esquenta.
Nossa Semana Santa vai ser assim que não temos dinheiro nem para visitar Caetés. Ficaremos aqui mesmo. Nos buracos, nos matos e na garoa. Felizes da vida, pois quem tem um amor tem tudo. Na santidade ou no pecado estamos sempre satisfeitos, sem necessidade de descontar as frustrações (que não temos) em ninguém.
Quer um conselho do Raulzito? Ame e seja amado. Assim você aguentará melhor os políticos, os cri-cris, os invejosos e todos os males da cidade do clima maravilhoso. Feliz Páscoa pra todo mundo! São os votos do Raulzito e da Viviane.

Um comentário:

  1. Antigamente o pecado era algo proibido, hoje é proibido falar a palavra pecado, por isso criou-se outros nomes, fraqueza humana, desvio de conduta, escolhas pessoais, tudo para que o homem não se arrependa ou que construa críticas a ele mesmo, talvez foi a única forma de projeto para o caminho do pecado sem se falar que é pecado, será porque? Pequem quanto quiser, não tem mais valor para nossos dias, são autores ultrapassados, antigos pra mais de 2000 anos. Hoje o homem evoluiu. Mas se esquecem que mais cedo ou mais tarde, vão ter de prestar contas para Deus.

    Feliz páscoa, que Jesus Cristo lhe abençoe com a verdade e as vitórias que um ovo de chocolate não pode lhe proporcionar.

    abraços

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