Esse ano não decidi ainda seu vou para Porto de Galinhas ou o açude de São João, durante o carnaval. Eu e a Viviane, minha galega do bairro de São José, queremos evitar os problema de outros carnavais. Sim porque teve um ano, quando a gente era mais jovem e mais fogosos, que foi um negócio sério. Resolvemos fazer um retiro espiritual numa cidade do Sertão de Alagoas e terminamos por pecar.
Ficamos instalados numa espécie de mosteiro, com quartos rústicos e pequenos. Fazia calor, tinha mosca e muriçoca e a santa salvação era um ventilador antigo fazendo um barulho dos 800 diabos.
Era para rezar e jejuar de manhã, à tarde e de noite. A gente até que tentou. Mas satanás tentou nossas carnes fracas e o tesão pôs tudo a perder.
No quarto fizemos amor todo sábado de aleluia e no domingo acordamos sem forças. Como era para comer só meio pão de centeio com uma xícara de chá de camomila ficou impossível recuperar as forças. Passamos o resto do dia meio alesados, dava a impressão de dois emaconhados. À tarde, depois do almoço light capaz de deixar todas as barrigas da pousada roncando, voltamos pra o quarto. E sem ter como matar a fome nos agarramos novamente. Tá, tá, tá. Dormimos até a segunda-feira, sem nem ao menos lembrar que em alguma parte do mundo havia carnaval.
O mesmo pão de centeio, o mesmo chá e a mesma fraqueza. Minhas pernas estavam bambas. Fui olhar como estavam as de minha amada e as vi perfeitas, bem torneadas, subindo em direção as coxas volumosas e moreno-doiradas. Fiquei louco. Com fome, debilitado e querendo mais.
Meu Deus por que é tão difícil resistir ao pecado? Perguntei ao lá de cima, tentando levar um papo com Ele.
Não obtive resposta e percebi que estava obcecado. Aquele nada-que-fazer, a fome, a solidão do lugar e os olhos de Viviane acesos como a Avenida Santo Antônio quando tinha Natal dos Sonhos, estavam me deixando maluco.
Não sei onde encontramos forças para fazer amor novamente três ou quatro vezes naquela segunda-feira. Chegou a terça-feira a história se repetiu e eu já estava convencido de que aquele seria nosso último carnaval. Iriamos morrer de overdose de sexo.
Começou até a faltar força para rezar. Também, já estávamos condenados ao inferno.
Chegou a quarta-feira ingrata e perto do almoço estávamos numa área do quase-mosteiro parecendo um jardim, pelo menos tinham algumas flores, mato, árvores e o chão batido de terra.
Piongo, os dois, meu olhar quase morto. Quando olho para a Viviane, atrás de Socorro, ela me examinava com a cara mais safada do mundo. De sainha ainda abriu as pernas e deu um lance capaz de desentrevar até um velho de 99 anos.
Ali mesmo comecei a beijá-la, beliscar, morder, as mãos passeando por mares muitas vezes navegados. Quando estava no bem bom, no melhor, chegou um dos padrecos e nos deu o maior flagra.
Fez discurso, fez sermão, excomungou e confirmou o que já está explícito desde o começo dessa história: "Vocês dois vão para o inferno!".
Relembrando os pecados daquele tempo eu e a Viviane estamos inclinados a pegar uma carona pra Tamandaré e se não pintar vamos mesmo ver de perto o açude de São João. Retiro espiritual nunca mais. A gente passa muita fome e fica fraco das pernas. Deus me livre de precisar me internar no Dom Moura.